quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Melhor qualidade de vida



Clique para Ampliar

Turistas e moradores locais frequentam a Praia do Náutico, cartão postal de Fortaleza, no coração do Meireles
FOTOS: RODRIGO CARVALHO
Clique para Ampliar
Clique para Ampliar
Moradores realizam torneios de futebol nos fins de semana e parte das inscrições é revertida para instituições filantrópicas
Clique para Ampliar
Espaço, de 1.900 m2,+ é composto por plantas típicas, lagos , pontes e cascatas




Bairro apresenta IDH mais alto que outras áreas de Fortaleza e supera até o dos Estados Unidos
Com características privilegiadas em relação ao restante da cidade, o Meireles é considerado um dos bairros de melhor qualidade de vida de Fortaleza. Segundo dados da Secretaria Executiva Regional II (Ser II), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do bairro é de 0,916, número superior ao dos Estados Unidos, que é de 0,902 (um dos maiores do mundo).

O IDH é um instrumento da Organização das Nações Unidas (ONU) para classificar o desenvolvimento de países, estados, cidades e comunidades em geral, que leva em conta fatores como a expectativa de vida, nível de escolaridade e renda per capita. No caso do Meireles, todos esses fatores são elevados.

Originado do antigo bairro Lidiápolis, que também deu origem à Aldeota, o Meireles é privilegiado por natureza. A começar pela orla marítima, que se estende da Praia de Iracema ao Mucuripe e compreende em sua extensão o metro quadrado mais caro de Fortaleza (cerca de R$ 7 mil). Além disso, sua renda per capita é a maior da cidade, com valor acima dos R$ 4 mil.

Em relação à infraestrutura, seus moradores também não têm do que reclamar, já que nada menos que 99,5% dos domicílios são atendidos por rede de esgoto e mais de 96% das moradias da área têm acesso à rede de água tratada.

Para o presidente da Associação dos Amigos da Beira-Mar, Tadashi Enomoto, no entanto, o maior problema do Meireles é a crescente verticalização da área, com a construção de mais e mais edifícios a cada ano. Ele conta que chegou ao local em 1987, época em que os poucos prédios que existiam não tinham tamanho maior que três andares e a visão do mar era mais acessível aos moradores.

Enomoto reclama também do descaso da administração pública em relação à orla marítima. "Em muitos locais, o lixo se amontoa nas calçadas, não há fiscalização sobre a circulação das bicicletas e a reforma do calçadão, que a Prefeitura tomou por concluída, está incompleta e malfeita", afirma.

O comerciante Francisco Bastos Pinheiro, de 59 anos, que quase diariamente frequenta a "Praça dos Stressados", na Beira-Mar - um dos pontos típicos do bairro - diz que a vida no Meireles é "bastante tranquila". Para ele, o maior problema são os "flanelinhas", que muitas vezes estão vendendo ou consumindo drogas.

"Não há uma política pública eficiente, do Governo do Estado ou da Prefeitura, que resolva o problema dessas crianças e adolescentes de uma vez por todas. Muitos deles vêm de longe, não têm oportunidade de estudar ou de trabalhar e dormem nas ruas", relata.

Em relação à geração de renda, podem ser encontradas no Meireles várias lojas, centros comerciais e hotéis de grande porte, já que o bairro também inclui em seus limites as avenidas Dom Luiz e Beira-Mar, esta última principal corredor turístico de Fortaleza.

Mão-de-obra
À margem dos estabelecimentos comerciais, muitas pessoas vivem e se beneficiam do fluxo de turistas que é atraído para a região. É o caso da Feirinha de Artesanato da Beira-Mar, que congrega cerca de 300 artesãos. Há também vendedores ambulantes, como Jesse Moreira Costa, de 47 anos, que há 38 vende brozeadores na Praia do Náutico.

Ele diz que começou o trabalho com 10 anos de idade e não quis outra vida a partir de então. "Sustento minha mulher e minha filha com o dinheiro que tiro aqui", afirma. Jesse, que mora no bairro Granja Portugal, diz que consegue tirar de dois a três salários por mês, dependendo da época do ano.

Enquete
Sujeira na Beira-Mar 

"Moro em Natal e vim de férias para conhecer as praias daqui, mas não sei se vou entrar no mar, por conta da poluição"
Tiago Amorim Araújo20 anos
Industriário

"Estava tentando achar um lugar para ficar, mas o fedor é insuportável. Acho que é um problema que não tem solução"
Bete Pereira
46 anos
Industriária

"Falta uma política de saúde pública. Além do lixo, há pessoas mal-educadas que não recolhem os detritos de seus cachorros"
Francisco Bastos Pinheiro59 anos
Comerciante

Praia

Bom
A visão da orla marítima, bem como a profusão de hotéis e restaurantes, é o ponto alto da Praia do Meireles, que inclui a Praia do Náutico. Todos os anos, milhares de turistas internacionais e de outros estados brasileiros transitam pela Avenida Beira-Mar, gerando emprego e renda.

Mau
O lixo e o esgoto que atingem a Praia do Náutico são o motivo pelo qual o local é desaconselhado para o banho de mar. Apesar de se hospedarem em hotéis de frente para o oceano, muitos turistas precisam se deslocar para outras praias menos poluídas, se quiserem dar um mergulho

CAMPO DO AMÉRICA

Terreno não será mais leiloado

Como um oásis às avessas, a Favela do Campo do América, no centro do Meireles, é um dos poucos locais do bairro em que as condições de moradia e saneamento deixam a desejar. Mesmo com essas dificuldades, a comunidade tem motivos para comemorar. É que o campo de areia, ao redor do qual a favela existe, não será mais leiloado pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), verdadeiro dono do terreno.

Segundo o comerciante José Ribamar da Silva do Carmo, de 30 anos, a desistência por parte do INSS é uma conquista da Associação das Mulheres do Campo do América, que travou uma grande batalha pela liberação do campo. "Já existe até projeto de urbanização por parte do Governo do Estado e da Prefeitura. Se acabassem com esse campo, 80% dos adolescentes daqui iriam virar marginais. Esse é o principal ponto de lazer do bairro", afirma.

Juntamente com o autônomo Carlos Henrique Cassiano, de 31 anos, Ribamar organiza os torneios de futebol, no Campo do América. As competições, que acontecem aos finais de semana, frequentemente têm caráter beneficente. Para participar dos torneios, cada jogador paga R$ 15,00, sendo que de cada inscrição, R$ 3,00 são destinados à Casa Abrigo da Criança, no Pirambu, que beneficia cerca de 150 crianças.

Carlos Henrique afirma que o Campo do América existe há 30 anos e que os torneios de futebol são uma forma de evitar que muitos adolescentes se envolvam com o tráfico de drogas, um dos grandes problemas do bairro, na sua opinião. "A gente vê muitos desses garotos nas esquinas, sem fazer nada. Aqui no campo, pelo menos eles têm uma diversão e alguma coisa para ocupar a mente", explica. Ele diz ainda que os jogos semanais envolvem a formação de oito times, com uniformes e jogadores definidos. A média de público por jogo é estimada em torno de 400 pessoas.

JARDIM JAPONÊS

Obra ainda não tem prazo de conclusão

Juntamente com tantas outras obras da Prefeitura de Fortaleza, o Jardim Japonês ainda não tem data definida para conclusão. De acordo com a própria prefeita Luizianne Lins, o problema com essa e as outras obras é que elas não tinham recursos previstos dentro do orçamento do Tesouro Municipal deste ano. Iniciada em agosto de 2008, a construção do Jardim Japonês já teve várias previsões de conclusão anunciadas: dezembro de 2008, abril de 2009 e julho deste ano foram algumas delas.

A obra, que é motivo de polêmica entre os moradores do Meireles, foi projetada para comemorar o centenário da imigração japonesa no Brasil, ocorrido em 2008. Localizada na Praça da Independência, na Avenida Beira Mar (entre as ruas Júlio de Carvalho e José Napoleão), o espaço tem 1.900 m2 e ambientes com lagos, cascatas e pontes. A previsão é que haja também espaços para meditação, prática de ioga e tai chi chuan.

"Acho um absurdo uma obra como essa que está consumindo tempo e dinheiro dos contribuintes, quando há coisas mais importantes para a Prefeitura se preocupar", afirma Tadashi Enomoto, presidente da Associação dos Amigos da Beira-Mar. Ele diz que muitos moradores reclamam que a obra, além de não ter relação com a cultura cearense, atrapalha a visão que eles tinham do mar.

BRUNO STÉFANO
ESPECIAL PARA A CIDADE
Fonte- http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=909668