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quarta-feira, 22 de março de 2017
Janot reage e acusa Gilmar Mendes de sofrer ‘disenteria verbal’
Sem mencionar nome do ministro, procurador rebate acusação sobre vazamento de informações
por Jailton de Carvalho
/
Atualizado
BRASÍLIA — Num dos mais fortes discursos desde o início de
sua gestão, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusou o
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, de sofrer de
decrepitude moral e disenteria verbal. O procurador fez as críticas numa
resposta à acusação do ministro
de que procuradores teriam convocado uma entrevista coletiva em off na
semana passada para vazar os nomes dos políticos suspeitos de receber
propina da Odebrecht. Janot disse que Mendes apontou o dedo contra o
Ministério Público, mas se omitiu sobre o uso do off no Palácio do
Planalto, no Congresso Nacional e no próprio STF.
Janot critica Gilmar
—
Não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria verbal a se
pronunciar sobre essa imputação o Palácio do Planalto, Congresso
Nacional e Supremo Tribunal Federal. Só posso atribuir tal ideia a
mentes ociosas e dadas a devaneios. Mas infelizmente com meios para
distorcer fatos e instrumentos legítimos de comunicação institucional —
disse o procurador-geral no encerramento de encontro de procuradores
regionais eleitorais na Escola Superior do Ministério Público. Janot não mencionou o nome de Mendes, mas fez uma série de
referências que não deixam dúvidas sobre o alvo de suas criticas. As
informações sobre o a suposta coletiva foram divulgadas pela imprensa no
domingo e replicadas por Mendes ontem à tarde no STF. Ao falar sobre o
suposto vazamento dos nomes de políticos da lista de Janot, o noticiário
fez referências a prática do off no Palácio do Planalto, no Congresso
Nacional e no STF. Para Janot, o ministro preferiu direcionar os ataques
ao Ministério Público e omitiu, de forma deliberada, as menções ao uso
do off no Palácio, do Congresso e no STF.
Empreiteiras encolheram e perderam protagonismo na economia após Lava Jato
Abaladas
pela operação que completa 3 anos e pela crise, gigantes da construção
demitiram, venderam ativos e ficaram de fora das concessões; algumas
pediram recuperação judicial
Por Taís Laporta e Karina Trevizan, G1
Movimentação na sede da PF no Rio, durante a 38ª fase da Operação Lava
Jato, deflagrada na manhã desta quinta-feira (23) (Foto: José
Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Mergulhado em uma crise sem precedentes, o setor de construção civil encolheu depois da operação Lava Jato.
As investigações que há 3 anos revelaram esquemas de corrupção nas
maiores empreiteiras do país agravaram os impactos da crise econômica
nessas empresas, que tiveram que vender ativos, demitir e até pedir
recuperação judicial para sobreviver.
A era pré-Lava Jato foi marcada por um crescimento acelerado no mercado
de construção civil. Obras bilionárias saíram do papel enquanto
pipocavam vagas de trabalho para engenheiros na construção de estádios,
rodovias, terminais de aeroportos, usinas e projetos para a Copa do
Mundo e a Olimpíada.
Construtoras como Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e
Engevix caminhavam para a diversificação de negócios, entrando em
segmentos além da construção, como saneamento, indústria naval e
administração de aeroportos. Quando a Lava Jato eclodiu, elas tinham uma
carteira de obras para tocar e contavam com crédito barato para
concluir os projetos.
Com a reputação manchada, o crédito secou e não demoraram a aparecer
problemas de caixa. Diante desse cenário, as empresas mudaram de
postura. Os planos de crescimento deram lugar aos planos de
sobrevivência, com foco em entregar obras que já tinham. Se, no passado,
fizeram lances ousados em leilões de infraestrutura, agora ficam de
fora das principais disputas no país.
"A
operação teve um peso decisivo na forte queda dos investimentos em
produção, com mais da metade concentrada na construção civil"
Rebaixamentos e demissões
Em meio a novas revelações envolvendo empreiteiras da Lava Jato, as
agências de classificação de risco rebaixaram as notas de crédito das
principais envolvidas. A Odebrecht, por exemplo, passou a ser
classificada pela Fitch como um risco de crédito "muito alto" e "algum tipo de inadimplência provável".
Sem recursos disponíveis, algumas das empreiteiras começaram a vender
ativos para tentar dar fôlego ao caixa. A Odebrecht tem planos de vender
R$ 12 bilhões em ativos. A Engevix vendeu sua fatia nos aeroportos de
Brasília e São Gonçalo do Amaral. A Camargo Corrêa vendeu sua
participação na Alpargatas e na CPFL para fazer caixa.
Em casos mais extremos, não houve saída e o único caminho foi pedir
recuperação judicial. Ao menos quatro das nove maiores construtoras que
tem executivos que são réus na Lava Jato seguiram esse caminho - OAS,
Galvão Engenharia, Schahin e Mendes Júnior.
As demissões no setor foram inevitáveis, também agravadas pelos
problemas fiscais que paralisaram grandes obras. A OAS, por exemplo, que
tinha 120 mil funcionários antes da Lava Jato, hoje tem 35 mil.
O setor de construção perdeu mais de 1,08 milhão de vagas de trabalho
em 27 meses até dezembro de 2016, segundo dados do Sinduscon-SP. O
estoque de empregos passou de 3,57 milhões em outubro de 2014, para 2,48
milhões no fim do ano passado.
O setor de construção perdeu mais de 1,08 milhão de vagas de trabalho em 27 meses até dezembro de 2016
Impacto na economia
O encolhimento das empreiteiras impactou a economia. Em 2016, o PIB da
construção civil recuou 5,2% sobre o ano anterior, agravando o
desempenho já ruim da economia brasileira, que encolheu 3,6% no período,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A
atividade das construtoras formais no país recuou 18,2% em 2016, segundo
índice medido pelo Sinduscon-SP.
"A operação teve um peso decisivo na forte queda dos investimentos em
produção, com mais da metade de seu montante concentrado na construção
civil", lembra o professor da Fundação Getúlio Vargas e sócio da GO
Associados, Gesner Oliveira. Um estudo elaborado pela consultoria
calcula que a Lava Jato deve ter um impacto negativo anual de 3,63
pontos percentuais sobre o PIB entre 2015 e 2019.
O cálculo leva em conta as reduções nos investimentos da Petrobras e no
faturamento do setor de construção. "Haveria uma subtração de R$ 284,2
bilhões no valor bruto da produção da economia, a perda de 3,64 milhões
de empregos no mercado de trabalho, a redução de R$ 44,7 bilhões na
massa salarial da economia e R$ 18,7 bilhões a título de impostos
deixariam de ser arrecadados", conclui o relatório.
Para a coordenadora de Estudos de Construção Civil do FGV/IBRE, Ana
Castelo, a Lava Jato foi apenas uma das causas que levaram a construção
civil à crise atual. “Essa retração teve diversos motivos. O quadro de
déficit fiscal com cortes de gastos do governo e o fim do ciclo de
crescimento imobiliário também tiveram forte influência na paralisação
dos projetos”.
Fora do Brasil, a atuação dessas empresas também foi comprometida. Desde maio de 2016, o BNDES suspendeu a liberação de dinheiro para 25 projetos
em nove países de empreiteiras investigadas na Lava Jato. Em janeiro, o
banco começou a retomar esses repasses, mas passou a adotar critérios
mais rigorosos.
Os acordos assinados pelas envolvidas na Lava Jato com outros países
para tentar suspender ações judiciais desviaram o foco de atuação das
empreiteiras. “O próprio corpo de diretores desses empresas está
totalmente focado nos acordos de leniência”, diz Oliveira, da Go
Associados.
Fora de novos projetos
O envolvimento das empresas na Lava Jato acabou deixando vago um espaço
na concorrência por grandes projetos que antes não existia, acredita
Oliveira, da Go Associados.
"A oportunidade de aumentar a concorrência no segmento é uma possível
herança da Lava Jato”, avalia o economista. Para ele, o momento é
oportuno para a chegada de empresas internacionais e brasileiras de
médio porte nas concessões que estão por vir, como o pacote do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), anunciado pelo governo no ano passado.
"A oportunidade de aumentar a concorrência no segmento é uma possível herança da Lava Jato”
Para o presidente do Sinduscon-SP, José Romeu Ferraz Neto, as médias e
pequenas empresas de construção civil têm condições de assumir as obras
de infraestrutura no país. “Todos os profissionais que fizeram essas
obras anteriores continuam aqui, não perdemos toda nossa inteligência”,
diz. Para Ana Castelo, da FGV, exigências regulatórias ainda
desfavorecem a entrada de companhias menores nas grandes disputas por
obras públicas.
Os estrangeiros, por sua vez, já demonstraram forte interesse em atuar
no setor. A nova rodada de leilões dos aeroportos só foi disputada por
grupos internacionais, deixando de fora as grandes empreiteiras do país,
protagonistas nos leilões anteriores.
Um exemplo recente de entrada de grupos estrangeiros no setor foi a
chinesa State Grid, maior empresa do setor elétrico do mundo, que comprou em janeiro o controle da CPFL Energia por aproximadamente R$ 14 bilhões, fatia que pertencia à construtora Camargo Corrêa.
“O grande ganho da Lava Jato está associado a uma melhora da
concorrência e da relação das empresas com o setor público, mas houve um
custo inegável em produção e emprego para o país”, considera Oliveira.
Retomada
Para Ana Castelo, da FGV, a crise da construção civil já chegou ao
fundo do poço. A nova fase de crescimento do setor, acredita, deve ser
comandada pela área de infraestrutura, ao contrário do ciclo anterior
que foi concentrado pela área imobiliária. "Infraestrutura é um segmento
que leva mais tempo para começar a deslanchar”.
A pesquisadora diz que as grandes empreiteiras não sairão
necessariamente de cena. Uma hipótese é que a cúpula destas empresas
seja remodelada para viabilizar a continuidade no mercado. “As grandes
empresas envolvidas na operação tem uma experiência e conhecimento que
não podem ser desprezados”, acredita.
O lado positivo da crise política gerada pela Lava Jato, diz o
presidente do Sinduscon-SP, serve para dar um novo parâmetro de
qualidade para o setor. “As empresas estão reforçando seus programas de
compliance e códigos de ética”, lembra.
Empresas como Odebrecht, Camargo Corrêa e Engevix anunciaram reforços
na sua estrutura gerencial para melhorar a ética na empresa. Elas
investiram em estruturas de compliance para tentar recuperar sua
credibilidade e manter seus negócios.
Para Gesner, da Go Associados, a recuperação do setor de construção não
será simples. "O mercado de infraestrutura demora a mostrar sinais de
retomada”.
Como estão as empresas
Veja o que aconteceu com 9 construtoras que tem executivos que se tornaram réus da Lava Jato:
OAS
Menos de um ano após o início da Lava Jato, a OAS pediu recuperação
judicial para nove empresas do grupo. Em 2013, antes da Lava Jato, o
Grupo OAS tinha cerca de 120 mil funcionários. No fim de 2015, o número
havia caído para 70 mil. Hoje, são cerca de 35 mil.
O plano de recuperação prevê a venda de ativos, anunciada no plano de
recuperação. Na lista estavam fatias da OAS na Invepar, dona da
concessão de Guarulhos, no Estaleiro Enseada e empresas na área
imobiliária, ambiental, óleo e gás e defesa, além de arenas esportivas. A
ordem é dar um passo para trás e concentrar os negócios na sua
principal área, a construção civil.
Arena das Dunas (Foto: Ney Douglas )
Em nota enviada ao G1,
a empresa relatou que “passou a enfrentar dificuldades financeiras ao
ser envolvida na Operação Lava Jato em 2014. Naquele ano, foram
interrompidas então as linhas de crédito oferecidas pelas instituições
financeiras às empresas do setor de infraestrutura, o que afetou o grupo
OAS, que dependia fortemente de financiamento, tanto para investir em
projetos de infraestrutura, as concessões, como para tocar obras
(capital de giro).“ Segundo a empresa, a mudança de cenário impactou
fortemente o caixa e levou ao rebaixamento da nota do grupo pelas
agências de risco e ao vencimento antecipado de suas dívidas.
Segundo a empresa, o cenário já melhorou. “Hoje, a OAS está tocando 29
projetos. Desde o início da recuperação judicial, já fechou 5 novos
contratos e aditamentos no Brasil e no exterior, no valor de R$ 1,3
bilhão”, diz a empresa.
A empresa diz que “vem colaborando efetivamente com todas as
autoridades" e que quer "viabilizar o ressarcimento dos danos causados e
para dar continuidade às nossas operações."
Mendes Junior
Comperj (Foto: Divulgação/Petrobras)
A empresa foi a primeira entre as envolvidas na Lava Jato a ser
declarada como inidônea pela Controladoria-Geral da União (CGU), em
abril de 2016. Com isso, ela fica impedida de fazer contratos com
qualquer instituição pública por dois anos.
A Mendes Junior entrou recuperação judicial em março de 2016,
apontando no processo que passava por dificuldades desde 2014. À época,
a companhia citou a crise econômica, sem mencionar a Lava Jato. “A
empresa vem sendo impactada pela escassez de crédito e pelo baixo
investimento, frutos da atual situação da economia. Essa realidade fez
com que a empresa tivesse dificuldades em cumprir seus compromissos.”
O prejuízo da empresa só aumentou. Em 2014, foi de R$ 435 milhões, alta
de 47% sobre 2016. Em 2015, o prejuízo foi ainda maior, de R$ 520
milhões, segundo dados disponíveis na BM&F Bovespa.
O G1 procurou a empresa para comentar as dificuldades após o início da operação, mas não recebeu retorno.
Odebrecht
Gasodutos da Odebrecht Engenharia & Construção (Foto: Divulgação / Odebrecht)
Até o momento, já levantou R$ 5 bilhões com a venda de alguns de seus
negócios. Ela se desfez de sua participação de 70% da Odebrecht
Ambiental, concessões de rodovias no Peru e na Colômbia e um complexo
eólico no Rio Grande do Sul.
Em nota enviada ao G1,
a empresa informou que, desde o final de 2014, “frente ao cenário de
crédito restrito e a priorização da liquidez, a decisão da Odebrecht e
seus Negócios foi não contratar nenhum novo investimento, tanto no
Brasil quanto no exterior”.
A Odebrecht disse ainda que “reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça”, e lembrou que já “pediu desculpas publicamente”.
“A empresa assinou acordo com autoridades do Brasil, Estados Unidos e
Suíça e já possui entendimentos avançados com alguns países da América
Latina para esclarecer sua participação em atos praticados pela
companhia. A Odebrecht adotará as medidas adequadas e necessárias para
continuamente aprimorar seu compromisso com práticas empresariais éticas
e de promoção da transparência em todas as suas ações.”
Andrade Gutierrez
A Lava Jato e a própria crise econômica impactaram os negócios da
empresa. A sua receita se retraiu em 20% entre 2014 e 2015, de R$ 7,4
bilhões para R$ 5,9 bilhões. O grupo também se desfez de ativos desde
2014 para manter liquidez, além de outras medidas como reorganização de
passivos e corte de custos. Houve ainda redução de 30% no quadro de
funcionários.
Uma das vendas foi a Águas de Bayovar, no Peru, em 2016, por US$ 46
milhões, para o grupo americano AquaVenture Holdings. Para 2017, o grupo
espera concluir mais dois desinvestimentos até junho e levantar R$ 400
milhões.
O grupo Andrade Gutierrez, no entanto, disse que “mantém sua atuação no
setor de concessões rodoviárias através de sua participação na empresa
CCR”. Recentemente, a CCR fez uma oferta de ações da empresa no mercado e
levantou R$ 4 bilhões para a empresa.
CCR Nova Dutra (Foto: Divulgação / Andrade Gutierrez)
A companhia teve homologado pela Justiça em 2016 um acordo de leniência
que prevê pagamento de indenização de R$ 1 bilhão por envolvimento na
Lava Jato. No começo de 2017, o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) assinou acordo com a empreiteira, que aceitou pagar R$
56 milhões em dois acertos, envolvendo investigação de irregularidades
em licitações para obras da Petrobras e para construção da usina nuclear
de Angra 3.
Em nota enviada ao G1,
a companhia lembra que já pediu desculpas publicamente, e afirma ainda
que vê a Lava Jato “como um catalisador para profundas mudanças
culturais, que transformem o modo de fazer negócios no país”. “Uma das
diretrizes seguidas pela Andrade Gutierrez nesse sentido foi o
fortalecimento da área de Compliance.”
No setor naval, a Engevix Construções Oceânicas (Ecovix), braço da
Engevix criado para a construção de plataformas para a Petrobras logo
após a descoberta do pré-sal, entrou em recuperação judicial em 2016. Em
dificuldades, a empresa acumulou dívida que chegou a R$ 8 bilhões.
No pedido de recuperação, os advogados citaram entre as justificativas a
crise da Petrobras, “principalmente em razão do envolvimento em
investigações conduzidas pela polícia federal, o que gerou impactos em
praticamente todos os seus fornecedores”. Outras razões listadas são
cortes de incentivos ao setor, o ajuste fiscal e a baixa dos preços do
petróleo.
Em nota enviada ao G1,
a Engevix disse que “o faturamento encolheu na ordem de 70%, e as vagas
de emprego sofreram um corte de 80%”. “A empresa encolheu, de fato. Em
2013, empregávamos cerca de 20 mil profissionais. Agora, são cerca de 3
mil. Transitoriamente, fechamos frentes de trabalho e interrompemos
projetos.”
A empresa diz que se esforça para recuperar sua rentabilidade. “Essa
brutal queda, porém, não reduz em nada o empenho e o interesse da
companhia em retomar suas bases mais sólidas, contando com um rigoroso
programa de Compliance e Ética, que está em implantação. (...) De fato, o
país mudou. A Operação Lava Jato nasceu com as novas leis nacionais e
internacionais que passaram a suprimir práticas que, antes, eram
infelizmente toleradas”, diz a nota.
Galvão Engenharia
A empresa entrou recuperação judicial em março 2015. O faturamento da
empresa caiu de R$ 3,5 bilhões em 2014 para R$ 885 milhões no ano
seguinte - um recuo de 75%. Com isso, teve um prejuízo líquido de R$ 282
milhões, contra ganhos de R$ 402 milhões positivos no ano anterior.
Na divulgação do balanço daquele ano, a empresa reconheceu que as
demonstrações contábeis poderiam sofrer impactos “em decorrência dos
possíveis efeitos da Operação Lava Jato”. Mesmo assim, a empresa disse
acreditar que “os riscos envolvidos em referidos processos não
comprometerão as atividades futuras da companhia”.
Quando pediu recuperação, a Galvão Engenharia disse que a decisão era
resultado de sua “atual condição financeira”, “agravada pela
inadimplência de alguns de seus principais clientes, dentre eles a
Petrobras. A companhia estatal não honrou pagamentos de serviços
adicionais executados, por ela solicitados e atestados”. À época, a
Petrobras negou atraso de pagamentos.
A crise veio logo após a empresa assumir novas concessões. Agora ela
enfrenta o risco de ter que devolver a concessão da rodovia BR-153,
entre Goiás e Tocantins, conquistada em 2014, um projeto de R$ 4,2
bilhões em investimentos. A possibilidade de relicitação de contratos
foi criada depois que algumas concessionárias passaram a enfrentar
dificuldades financeiras e incapacidade para cumprir os contratos.
O G1 procurou a empresa para comentar as dificuldades após o início da operação, mas não recebeu retorno.
Em nota enviada ao G1,
a holding Camargo Corrêa S. A. informou que, “com a efetivação da venda
da sua participação na CPFL, encerrou o processo de readequação do seu
portfólio proposto em seu plano de negócios e que atualmente não está
buscando novas alienações de ativos”.
“Como uma gestora de portfólio, a Camargo Correa S.A. acredita no
potencial de geração de valor nos mercados onde seus negócios estão
inseridos, mantendo-se atenta a oportunidades de mercado.”
O G1 procurou
também a Construtora Camargo Correa empresa para comentar a situação da
empresa, mas a companhia não respondeu. Em 2015, a construtora Camargo Corrêa fechou acordos de leniência que somam R$ 804 milhões a serem devolvidos pela empresa em virtude do esquema investigado pela Lava Jato.
Schahin Engenharia
A Justiça aceitou em março de 2016 o pedido de recuperação de 13 empresas do Grupo Schahin.
O grupo havia acumulado uma dívida de cerca de R$ 6,5 bilhões. O
conglomerado ainda anunciou que iria abandonar suas atividades no campo
da engenharia e construção para se concentrar na área de petróleo e gás.
Pouco antes de recorrer à recuperação, a empresa interrompeu a operação
de cinco unidades de perfuração que alugava para a Petrobras.
"A situação vivida decorre principalmente do fechamento dos mercados de
crédito nacional e internacional, o que impossibilita o financiamento
das atividades das empresas", disse a empresa na ocasião. “Todos os
esforços possíveis para evitar a recuperação judicial foram feitos — da
tentativa de lançar títulos no mercado de capitais e da renegociação de
passivos existentes, até o repasse de contratos de obras — infelizmente,
sem sucesso."
Em 2015, a Receita Federal anunciou que fez um bloqueio de R$ 4,6
bilhões de recursos do grupo Schahin por conta de sonegação de impostos e
fraude.
O G1 procurou a empresa para comentar as dificuldades após o início da operação, mas não recebeu retorno.
UTC Engenharia
Dona de parte da Aeroportos Brasil, que controla Viracopos em Campinas
(SP), a UTC reestruturou no ano passado uma dívida de R$ 1,2 bilhão com
seus credores e evitou um pedido de recuperação judicial. A empresa se
comprometeu a se desfazer de ativos para tentar pagar o valor devido aos
bancos.
Em janeiro deste ano, a UTC assinou dois Termos de Compromisso de Cessação
(TCC) com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) dentro
da investigação de prática de cartel e de conluio em licitações para
obras da Petrobras. A construtora se comprometeu a pagar R$ 129,2
milhões, “a maior contribuição pecuniária individual já negociada com
uma empresa na história do Cade”, segundo o órgão.
A construtora disse na ocasião que "pretende, em breve, firmar novos
acordos no setor público" e que isso faz parte de um "processo de
aprimoramento e a implantação de um novo código de ética e conduta."