Autora: Celina Côrte Pinheiro - Médica e Coopista dos Amigos
Estátua de Iracema , ontem
Estátua de Iracema , hoje
VIOLÊNCIA QUE FERE
A paixão de Martim por Iracema hoje não se repetiria, caso se reencontrassem. Ela, envelhecida e alquebrada, com sua vista perdida no horizonte, sem arco, sem mãos, pouco a pouco perde seus encantos tanto na antiga, quanto na nova versão. Ele, com a coxa esburacada, já não se presta sequer como fundo para fotos captadas por turistas. Ambos vítimas não apenas da sanha de vândalos, mas também da falta de vigilância e de preservação. O casal não mais encanta. Ao contrário, desperta em nós o desencanto diante de uma realidade difícil de aceitar: a proliferação da ignorância e da violência, a falta de educação e o desrespeito reinante na sociedade.
A violência contra o patrimônio público é, na verdade, uma lança fincada no coração de cada cidadão. Tudo se constrói, mas quase nada permanece. Parques, praças, monumentos, ruas, calçadas, quando não sofrem a ação do tempo, bem menos hostil, sofrem nas mãos dos vândalos que, pautados pelo desamor, procuram mostrar a cada um de nós quem realmente é dono desta cidade.
Procuro em vão a bela Fortaleza e não a encontro. A preservação parece não fazer parte de seu destino. Tudo pode ser destruído. Suas praças tornam-se guetos, seus casarões antigos transformam-se em feios estacionamentos ou espigões atarantados, seus monumentos tornam-se caricaturas pelas mãos de irresponsáveis agressores, enquanto o lixo, sem destino certo, acumula-se nas ruas e calçadas. A grande pobreza do Nordeste ainda reside no espírito de um povo pobre em oportunidades. Investimentos em educação, com metas bem planejadas, será a medida mais econômica a ser definida. Não pode ser protelada! Ah, Fortaleza, não desejo me tornar sua desamante... Um dia, ainda hei de vê-la respeitada!
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