Depois de isolar Delcídio, PT tenta se descolar de José Dirceu
Por
- iG São Paulo
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O partido busca aprofundar a estratégia de volta às origens, retomar a confiança da militância e melhorar a imagem no momento mais delicado da sua história
Encurralado pela falta de credibilidade, o Partido
dos Trabalhadores aproveitou a prisão de Delcídio do Amaral (líder do
governo no Senado, eleito por Mato Grosso do Sul), feita pela Polícia
Federal na quarta-feira (25), para reforçar a estratégia de uma faxina
geral na imagem. O comunicado do PT, assinado pelo presidente nacional
Rui Falcão, tenta descolar o partido do escândalo envolvendo o
parlamentar, suspeito de tráfico de influência com o objetivo de
facilitar a fuga de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, condenado
na Operação Lava-Jato. Dias antes, a legenda já tinha decidido
desembarcar do apoio a Eduardo Cunha (PMDB/RJ), presidente da Câmara dos
Deputados, envolvido em denúncias e que será julgado por falta de
decoro parlamentar por mentir aos colegas de uma CPI.
Agora, além da provável expulsão de Delcídio, que
rapidamente vem ganhando força e que será decidida pela Comissão
Executiva Nacional do PT, há um movimento interno entre os líderes do
partido para negociar com José Dirceu, preso em Curitiba,
sua desfiliação.
Para interlocutores que acompanham de
perto a tentativa do partido de voltar às origens, a expulsão de Dirceu
seria traumática demais por causa da relação histórica dele com o
PT. Por isso, o melhor caminho seria o acordo para que ele peça o
desligamento do Partido dos Trabalhadores.
O movimento cirúrgico envolvendo Dirceu será parecido com o que foi feito com o ex-deputado federal André Vargas, que se desfiliou do PT após condenação na Operação Lava-Jato, em setembro passado.
Estratégia da viradaO movimento cirúrgico envolvendo Dirceu será parecido com o que foi feito com o ex-deputado federal André Vargas, que se desfiliou do PT após condenação na Operação Lava-Jato, em setembro passado.
A nova configuração do partido, pilotada por Rui
Falcão e o alto comando do PT, passa pela reaproximação com os
movimentos sociais e críticas ao ministro Joaquim Levy, da Fazenda, e a
condução da política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff.
Os
críticos acham que o endurecimento do PT em relação a Delcídio do
Amaral e a Cunha ainda é insuficiente para recuperar a imagem e ajudar
tanto na crise que engole o governo da presidente Dilma quanto no
desempenho nas urnas nas eleições municipais de 2016. Para tal, o
partido deveria se afastar de outros petistas envolvidos em denúncias,
como o tesoureiro da campanha presidencial, João Vaccari Neto. Além
disso, teria demorado muito para sair de perto de Cunha na esperança de
garantir um aliado que barrasse os pedidos de impeachmet de Dilma na
Câmara.
Críticas a Falcão
A
decisão do PT de não apoiar Delcídio do Amaral, se por um lado agradou
aos militantes que esperam pela faxina no partido, por outro houve quem
achasse que a nota assinada por Rui Falcão foi precipitada. Segundo a
nota assinada pelo presidente do partido, as negociações envolvendo
Delcídio, o advogado Edson Ribeiro e Bernardo Cerveró, filho do
ex-diretor da Petrobras, responsável por denunciar o esquema, não têm
relação com a atividade como senador.
O trecho mais criticado entre os parlamentares no
dia da prisão do senador, determinada pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), é o que isenta o PT da responsabilidade na ação de Delcídio. "O
PT não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade", informou o
partido horas depois da prisão do líder no Senado.
O
senador Omar Aziz (PSD-AM) partiu para cima de Falcão durante a sessão
de quarta-feira se Delcídio deveria ser colocado em liberdade. O
parlamentar classificou a nota como intempestiva e chamou
insistentemente o presidente do PT de covarde.
A
liderança do PT saiu em defesa de Falcão. "Ele merece a solidariedade, o
apoio e o aplauso, apesar de ser doloroso. A militância não está mais
disposta a baixar a cabeça e quer resgatar a dignidade", classifica
Marco Aurélio de Carvalho, coordenador jurídico do partido. "Trata-se de
um movimento de reencontro com uma bandeira histórica do PT."
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