segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015


Cunha derrota Chinaglia e já promete pauta incômoda a Dilma

Após impôr derrota histórica ao governo, o novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, garante que uma de suas primeiras medidas é colocar em votação proposta de emenda à Constituição chamada de "orçamento impositivo"
PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS
Cunha vibrou após anúncio da vitória. Em discurso, reclamou da "tentativa de interferência do governo" na disputa


O governo Dilma Rousseff sofreu uma derrota histórica na noite deste domingo (1º) com a eleição em primeiro turno do peemedebista Eduardo Cunha (RJ), 56, para a presidência da Câmara dos Deputados.
Considerado um aliado pouco confiável, já que liderou rebelião contra Dilma em 2014, ele bateu o petista Arlindo Chinaglia (SP), nome bancado pelo Planalto, por 267 votos contra 136

E já em seu primeiro discurso como presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha já anunciou que colocará em votação, assim que possível, o projeto que obriga o governo federal a liberar verbas para as emendas que os congressistas fazem ao Orçamento.

A proposta de emenda à Constituição chamada de “orçamento impositivo” ainda precisa de ser votada em segundo turno pela Câmara.

Em sua fala após a vitória, que foi comemorada com fogos de artifício na Esplanada dos Ministérios, Cunha manifestou incômodo pela interferência do governo federal na disputa.

“Assistimos à tentativa de interferência do governo, mas o parlamento, por sua independência, sabe reagir. E ele soube reagir pelo voto”, afirmou. Ele ressaltou, entretanto, que não haverá sequelas na relação. “Nunca, em nenhum momento, disse que faria uma gestão de oposição”, discursou. Nas últimas semanas, o governo mobilizou ministros em favor de Chinaglia, o que incluiu promessas de cargos e ameaças de retaliação em casos de traição.

Mas a operação fracassou, já que Chinaglia obteve menos votos do que o total de deputados que compunham os partidos que o apoiavam oficialmente. Enquanto essas siglas somam 160 cadeiras, Chinaglia teve apenas 136 votos.

Ainda em sua fala, Cunha prometeu priorizar a reforma política e o pacto federativo, sem entrar em detalhes. O peemedebista, que substitui o colega de partido Henrique Eduardo Alves (RN), já se declarou favorável a uma nova CPI para investigar o escândalo da Petrobras.

Dores de cabeça
Horas antes da votação, petistas e integrantes do Planalto já haviam “jogado a toalha” e buscavam culpados pelo vexame. Outros 100 deputados votaram em Júlio Delgado (PSB-MG) e 8, em Chico Alencar (Psol-RJ). Houve dois votos em branco. A votação foi secreta. Entre apoiadores de Cunha e de Chinaglia houve consenso de que PR, PSD e PDT lideraram as traições de governistas, garantindo a vitória do peemedebista.

Apesar de adotar um discurso de que não fará uma gestão de oposição ao governo, Cunha deve dar dores de cabeça para o Planalto. Ele tem poderes, entre outros, para dar seguimentos a CPIs incômodas para o governo e até a eventual processo de impeachment contra a presidente da República.

A última vez em que o governo sofreu derrota semelhante na Câmara foi na surpreendente eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Casa, em 2005, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

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