Ladrão arrependido devolve dinheiro que roubou de homem no Ano Novo
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Advogado carioca teve sua carteira com R$ 1.017 roubados no Ano Novo; ladrão devolveu dinheiro com pedido de desculpas
A noite de Réveillon do advogado carioca Eduardo Goldenberg poderia ter ficado na sua memória como um momento desagradável.
Em
um post publicado em seu perfil no Facebook, ele conta que teve sua
carteira furtada, com todos seus documentos, cartões e uma boa quantia
em dinheiro, ao se encaminhar para a festa na praia de Copacabana. Mas o
caso teve um desfecho tão inesperado que seu relato viralizou, com mais
de 8,4 mil curtidas e 4 mil compartilhamentos até o momento.
Nesta sexta-feira, a BBC Brasil conversou com
Eduardo, o policial que o ajudou e uma amiga sua. A seguir, Eduardo nos
conta sua história e a de Fábio, o ladrão arrependido.
"Sou
um cara religioso, filho de Ogum, que é meu orixá, e sempre ouvi dos
meus guias espirituais que a rua é minha casa, que ela me protege e me
dá forças. Neste último Ano Novo, tive uma prova disso. Na noite do dia
31, fiz algo que não costumo fazer, ainda mais sendo um carioca com 40
anos de Réveillon em Copacabana. Sempre saio de casa para ir para a
festa na praia com quase nada: só uma única chave de casa, sem o
chaveiro, algum dinheiro e um documento de identificação.
Naquele
noite, não sei por que motivo, coloquei no bolso minha carteira
inteira, com todos os documentos, e saí. Não tinha qualquer lógica, pois
não pagaria nada naquela noite, mas acabei levando junto R$ 1.017 em
dinheiro que estavam nela. Estava saindo da estação Siqueira Campos, já
em Copacabana, quando senti uma mão no meu bolso. Minha carteira havia
sido roubada. Ainda olhei para minha mulher naquele momento e comentei
como havia sido uma burrice sair assim de casa. Disse que fazer isso era
quase como pedir para ser assaltado...
Havia uma massa
compacta de gente, e nunca encontraria o ladrão. Mas o arrependimento e o
enorme sentimento de impotência não me levariam a lugar algum. Estava
indo para uma festa e, se deixasse uma carteira e dinheiro furtados
estragarem a nossa noite, não gostaria de mim como ser humano.
No
primeiro dia do ano, estava almoçando com amigos no mesmo restaurante
onde passei a noite do Ano Novo, quando recebi uma mensagem pelo
Facebook. Uma amiga me escreveu dizendo que uma pessoa havia entrado em
contato para ela. O homem se identificou como policial e disse que
estava com minha carteira.
Ele contou que estava
trabalhando naquela noite próximo da estação e que uma pessoa veio até
ele e entregou minha carteira dizendo que a havia encontrado no chão.
Dois dias depois, fui até seu quartel, na Zona
Norte, e recuperei tudo. Neste momento, já me achava um cara de sorte.
Só faltavam meus cartões de visita que, pensando agora, acho que foram
uma peça-chave para o que ocorreria a seguir.
Na última terça, ao
chegar ao meu escritório, no Centro do Rio, onde trabalho sozinho, abri a
porta e me deparei com outra surpresa: no chão, havia um envelope
branco fechado, sem nada escrito. Na hora, me toquei que eram cédulas.
Ainda me perguntei se alguém tinha ficado de me deixar dinheiro e não me
lembrava.Quando abri, fiquei sem chão: eram R$ 967,00 em dinheiro. Junto, um bilhete:
"Dr. Eduardo, estou devolvendo seu dinheiro que eu peguei da sua carteira no dia 31 em Copacabana. Não dormi arrependido e peço que me perdoe. Feliz Ano Novo. Só tirei cinquenta reais pra comprar uma champanhe pra minha mãe.
Fábio."
Foi muito emocionante, uma avalanche de emoções.
Chorei muito. E foi impossível não pensar na letra do samba-enredo do
Salgueiro deste ano que diz: "Quem me protege não dorme". Fico muito
feliz de ter vivido isso na pele, porque, apesar de tudo que vemos por
aí, nunca perdi a esperança no ser humano. Mas não quero ser o foco. Só
fui um agente passivo nela.
Decidi compartilhar, porque
fiquei tão emocionado e emocionei tanto a quem está próximo de mim que
acho bacana que outras pessoas possam experimentar esta mesma
emoção. Espero que ele não tenha medo e me procure em outro momento,
para que eu possa conhecê-lo e à sua história. No fim, é uma bela
história de Ano Novo, quando as pessoas buscam renovação e reflexão,
repensam sua vida e atitudes para se tornarem melhores - e acho que foi
justamente o que ocorreu com Fábio."
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