Jovem se recupera após passar por
cirurgia de retirada de tumor acordada
Procedimento foi um dos primeiros no litoral de SP e ocorreu com sucesso.
Administradora de 23 anos conta a experiência de ter sido operada no cérebro.
Uma jovem de Santos, no litoral de São Paulo, enfrentou um procedimento inusitado durante uma cirurgia no cérebro para curar constantes convulsões. Após decidir fazer a intervenção, a administradora Ana Carolina Lima da Costa, de 23 anos, descobriu que teria que ficar acordada durante o procedimento. O jeito foi se preparar psicologicamente para o momento e confiar no médico. A cirurgia foi um sucesso. Dois meses após o procedimento, ela conta como foi a experiência e fala da felicidade de estar curada.
A jovem conta que começou a ter convulsões há dois anos. "Descobri quando estava trabalhando e senti um mal estar. Fui falar para uma amiga que eu queria beber água, mas disse que preferia escrever. Percebi que estava tendo dificuldade, trocava verbos e algumas palavras eu esquecia", conta.
Ana Carolina foi buscar médicos especialistas para o tratamento e teve contato com o neurocirurgião Marcus Vinicius Serra, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, e da Casa de Saúde de Santos. O profissional indicou uma cirurgia para a retirada da lesão, sem deixar sequelas e mantendo a qualidade de vida da paciente. O problema é que o procedimento seria feito com a jovem acordada.
Já nesse novo procedimento, em que Ana Carolina teria que ficar acordada, havia apenas 5% de risco de sequelas. "Pelo que eu saiba, foi a primeira vez em Santos [que uma cirurgia como essa foi feita]. Mas, em São Paulo, a gente já fez algumas desse jeito", diz o médico.
A operação foi realizada no dia 31 de outubro do ano passado. A paciente tomou um anestésico de curta duração, que bloqueou todos os nervos que se direcionavam para a cabeça dela. Os médicos colocaram uma máscara laríngea na jovem, para ventilação pulmonar, e sua cabeça foi totalmente presa. Em seguida, os médicos abriram o crânio dela e usaram uma espécie de GPS para navegar em tempo real pela região.
Logo depois, Ana Carolina acordou e começou a conversar com uma fonoaudióloga e com os médicos. Ela teve que olhar imagens e falar o nome dos objetos. Enquanto isso, uma espécie de caneta, chamada de "estimulador cortical", foi usada pelos cirurgiões para mapear os pontos onde a jovem apresentava hesitação na fala, podendo, assim, escolher o melhor local para alcançar o tumor.
"A gente vai encostando a caneta que está ligada a um aparelho e isso interfere na condução dos neurônios. Naquela área que ela errava a resposta, eu não podia mexer. A gente sabe por anatomia onde é a área do cálculo, do discurso, da compreensão e da fala. A gente mapeou toda a área do cérebro e fez de um jeito para entrar e conseguir retirar o problema sem deixar sequelas. A área da fala dela estava 4 mm mais para baixo. Se a gente tivesse feito só pela anatomia, ela estaria sequelada hoje", explica o médico.
Agora, Ana Carolina pretende passar o ano sem crises neurológicas. Ela deve voltar a trabalhar na segunda quinzena deste mês e quer guardar os vídeos da cirurgia para lembrar dos momentos em que participou acordada. "Minha família ficou muito feliz e me deu muito apoio. Eu nunca vou esquecer aquele Halloween", brinca, fazendo referência ao dia da operação, no qual também é celebrado o Dia das Bruxas em vários países.
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