Acabo de chegar de viagem à Alemanha, onde ouvi, no último dia dois, em Leipzig, uma palestra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para representantes dos diversos países participantes do 42º WorldSkills, uma competição internacional que pontua as capacidades técnicas de jovens integrantes de instituições de educação e formação profissional.
Esperava novidades, pelo fato de, ao sair do Brasil, o país encontrar-se sacudido por protestos que expressavam a insatisfação, principalmente da juventude, com o nosso sistema político, porém, o discurso de Lula resumiu-se a um relato do que ele considera serem os seus feitos quando presidente. Do mesmo modo, eu não tinha visto respostas à altura do clamor das ruas no pronunciamento que assisti da presidente Dilma Rousseff pouco antes de viajar.
Tenho pensado no significado dessas expressões de cidadania proclamadas nas ruas, por dizerem muitas coisas que precisam ser ouvidas e respondidas por todos que são responsáveis pelos destinos do País. Impulsionados pelas facilidades das comunicações online e mesmo não havendo lideranças visíveis, pela própria natureza deste fenômeno novo, os manifestantes têm em comum um ponto que não pode deixar de ser considerado: o fato de que as pessoas não se sentem representadas pela maioria dos ocupantes dos espaços de poder no atual sistema político.
Estes manifestantes demonstraram que querem opinar, não aceitando mais que os eleitos se apropriem dos mandatos, como se fossem seus e não de quem os elege. Não importa no momento a discussão do se o melhor é plebiscito ou referendo; o que parece mais urgente é encontrarem-se novos mecanismos institucionais capazes de atender a vontade da sociedade de influenciar as decisões do poder público. Para isso, precisamos corrigir os desvios da democracia representativa que estão chocando a população brasileira.
O aperfeiçoamento do nosso sistema político requer a compreensão efetiva das mudanças ocorridas ultimamente na sociedade e das facilidades tecnológicas de captação, transmissão e apuração de ideias e desejos dos cidadãos em geral e dos eleitores em particular. Isso é plenamente possível, sem ferir a essência do Estado Democrático de Direito, pois, afinal, o Brasil está precisando é de mais democracia e não de menos, tanto que as ocorrências de vandalismo, observadas nas manifestações, não chegaram a prevalecer, embora as notícias sobre elas tenham sido exageradas.
Os políticos brasileiros precisam entender e atender a voz das ruas. Já não é mais possível tolerar a insensibilidade da maioria deles em relação às expectativas das pessoas que querem viver em um país desenvolvido e com valores de justiça e moralidade. As cartas estão dadas. A pergunta é se os responsáveis por todos os poderes da república se distanciaram tanto do compromisso público ao ponto de não perceberem qual é o novo jogo ou se terão a sensibilidade de rever profundamente seus posicionamentos e condutas.
* Roberto Macêdo
roberto@pmacedo.com.br
Empresário.
Empresário.
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