quarta-feira, 17 de junho de 2015


Venezuela autoriza pouso de aeronave da FAB com senadores brasileiros

Sem permissão de viagem, senadores brasileiros ameaçavam denunciar país na OEA

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Senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB -SP) criticam impasse venezuelano - Ailton de Freitas / Agência O Globo


BRASÍLIA — Em uma reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e dos senadores Aloysio Nunes Ferreira e Aécio Neves, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, comunicou que o presidente Nicolás Maduro autorizou o pouso de uma aeronave que transportará uma comissão de senadores para pressionar pela definição da data de eleições e da libertação dos presos políticos.
Segundo Wagner, o governo venezuelano vai garantir a circulação da comitiva brasileira e e o encontro com os familiares dos presos, mas não será permitida a visita aos politicos presos. Segundo Aécio, a aeronave da FAB decolará de Brasília na quinta-feira de madrugada rumo a caracas.
— A solução é a melhor possível. O governo venezuelano não havia negado, só não tinha respondido ainda. Eu estava trabalhando com as autoridades diplomáticas e fico feliz que o esforço do silêncio tenha plantado uma solução que é boa para todos — disse Wagner.

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Renan se disse aliviado com a autorização para que a visita da missão oficial do Senado ocorra com a normalidade requerida. — Eu estou aliviado, sem dúvida. Estava preocupado. Já pensou se os senadores vão em uma aeronave privada e esse avião é abatido? — comemorou Renan.
Tanto Renan quanto Aloysio elogiaram a ação de Renan e Jaques Wagner para garantir a autorização do governo venezuelano.
— Agora de forma oficial. Foi a decisão acertada. Decolamos de madrugada no avião da FAB e chegaremos por volta das 11h30m para nossa agenda em caracas — disse Aécio.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), havia recebido sinais de que o governo da Venezuela poderia autorizar a entrada da aeronave. A mudança de posição teria sido o resultado de gestões feitas por autoridades do governo brasileiro, preocupadas com a repercussão negativa de um veto e um incidente diplomático também no Brasil.
— Ficou uma saia justa para o governo brasileiro também. É uma missão oficial do Senado brasileiro, não da oposição — comentou o presidente do PSDB, Aécio Neves, que já estava acertando com o Democratas o aluguel de uma aeronave particular para estar em Caracas, impreterivelmente na quinta-feira.
Agora, autorizada a ida do avião da FAB, deverão integrar a comissão além de Aécio e Aloysio Nunes, os senadores Sergio Petecão, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Romero Jucá (PMDB-RR) e José Agripino (DEM-RN). O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) desistiu da viagem em que seria cobrada a realização de eleições e libertação dos políticos presos.
— Eles viram que o estrago político seria grande se não autorizassem a ida da comissão do Senado — disse Caiado, sobre a possibilidade de o governo venezuelano recuar e autorizar a viagem.
AMEAÇA
O comando do PSDB e do Democratas deu até o final do dia para o governo venezuelano divulgar uma posição sobre a liberação ou não da ida de uma aeronave da FAB a Caracas com uma comissão de senadores em nome do Senado Federal, para pressionar pelo cumprimento das regras democráticas constantes da cláusula de ingresso no Mercosul. Se a autorização não vier até o fim do dia, disse Aécio, isso será entendido como uma negativa e uma violação as cláusulas democráticas que a Venezuela assinou ao ingressar no Mercosul.

O próximo passo será pedir sanções contra a Venezuela junto à OEA e providenciar a locação de uma aeronave particular para levar os senadores a Caracas na quinta-feira. Apesar de o ministro da Defesa estar fazendo gestões junto às autoridades venezuelanas para autorizar o pouso da aeronave da FAB, Aécio diz que o governo brasileiro não está se esforçando o suficiente para viabilizar a viagem dos senadores.
— O governo brasileiro poderia estar viabilizando essa viagem. Teria, se quisesse, força para mostrar que essa é uma visita legítima, como foi legítima a vinda aqui do presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Diosdado Cabello, e que foi inclusive recebido pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma essa semana. Chegaremos a Caracas de qualquer jeito. Esse gesto é importante também para a democracia daqui do Brasil — garantiu Aécio.
Senadores Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes (SP), do PSDB, criticam decisão e apelam por intervenção do governo brasileiro - Ailton de Freitas / Agência O Globo
Segundo o presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o silêncio do governo venezuelano até hoje, dois dias antes da viagem marcada, pode ser considerado uma negativa. Ele explicou que o ministro da Defesa, Jaques Wagner, foi solicitado por ele e por Renan Calheiros a ceder a aeronave para levar os senadores. Jaques encaminhou a solicitação de pouso às autoridades venezuelanas, que não responderam.
— Entendemos que há uma negação. A ausência de uma resposta ainda hoje para nós será considerada uma negativa e vamos viabilizar de outras formas a ida a Caracas — disse Aloysio Nunes.
A ideia dos senadores é chegar a Caracas ao meio-dia da quinta-feira, saindo de madrugada de Brasília, para se encontrar com familiares dos ativistas presos. Mas o objetivo principal é tentar visitar na cadeia o líder opositor Leopoldo López.
— Vamos procurar o carcereiro. Vamos chegar em quem administra o presídio e pedir para visitar Leopoldo. Se não autorizarem, será mais uma negativa — disse Aloysio.
Segundo Aécio, o convite foi feito pela ex-deputada María Corina e pelas esposas dos políticos presos. E nega que seja uma intromissão na política interna da Venezuela, já que cresce entre todos os países democráticos e na ONU a pressão pela liberação dos presos. Aécio culpa a omissão do governo brasileiro pelo aumento da escalada autoritária na Venezuela.
— É uma manifestação a favor da democracia. E quando se trata de defesa da democracia, não existem fronteiras. Quando vivemos no Brasil o período de trevas, não foram poucos os países e autoridades mundiais que vieram aqui se manifestar contra as prisões arbitrárias. Quero enfatizar que a omissão do governo brasileiro, com a força que tem na região para pressionar a Venezuela a respeitar as regras democráticas do Mercosul, ajuda no aumento da escalada autoritária — disse Aécio.
PROBLEMA DIPLOMÁTICO
Depois de Renan Calheiros reclamar da negativa do governo venezuelano, Jaques Wagner esteve no Senado para tentar desfazer o mal-estar, principalmente as especulações de que Caracas teria agido de comum acordo com Brasília, que é contra a viagem.
O ministro da Defesa falou com a imprensa na frente do gabinete da Presidência, mas não chegou a se encontrar com Renan, segundo a assessoria da Casa. Wagner rebateu críticas e disse que a Venezuela é um país soberano para decidir se dá ou não autorização para um avião pousar em seu território. Irrirado, ele afirmou ainda que "não manda na Venezuela" e que não houve uma resposta formal ao pedido até agora.
— Não mando no governo venezuelano. Aquilo lá é outro país. O embaixador do Brasil na Venezuela sabe, já falou, evidentemente que o governo da Venezuela é soberano para isso. Agora, eles é que têm emitir a autorização — disse Jaques Wagner, ao sair do Senado.
Jaques Wagner, inicialmente, fora ao Senado para um encontro com o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE). Mas tanto Eunício como Renan estavam numa reunião dos líderes dos partidos. O ministro, na saída, não disse com quem estivera.
Renan pediu na semana passada que a FAB cedesse um voo, e, em vários telefonemas com o ministro, recebeu a informação de que a Venezuela não se pronunciara a respeito.

Muito irritado, Wagner negou má vontade do governo brasileiro em ceder o avião. E rechaçou que tenha dito aos senadores Renan Calheiros e Aloysio Nunes Ferreira que houvera uma resposta oficial.
— Vamos dizer as coisas direito: houve um pedido feito, e o pedido foi encaminhado. Está lá no governo da Venezuela um pedido que é absolutamente corriqueiro. Qualquer avião da FAB, para sair daqui e ir a qualquer lugar, pede ordem de passagem pelo espaço aéreo e para o pouso. Não é verdade que tenha sido negado. O presidente Renan sabe disso, e o presidente Aloysio sabe disso. Eles acompanharam tudo. Não depende de mim — disse, encerrando a conversa.
Nos bastidores, a questão se transformou num problema político para o governo da presidente Dilma Rousseff. Isso porque o governo sempre criticou a viagem organizada pelo PSDB. Mas, agora, a questão se tornou um problema diplomático. Na segunda-feira à noite, o próprio ministro disse ao GLOBO que era evidente que a Venezuela não tinha interesse na visita dos senadores. Ao deixar o gabinete de Renan, ele não quis dizer qual o motivo do encontro.

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